segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Como foi o Our Love na Mostra Luta?




Maravilhoso.

Foi simplesmente sensacional dançar pra galera da Mostra e depois debater sobre arte, tema que custa tão caro à esquerda normalmente. Quase nunca se discute o tema com a sinceridade e o desapego necessário para tal.

Fiquei muito feliz e muito cheia..nem sei dizer do quê... A descriçao mais próxima que posso dar é aquela conversa típica de bailarinos (e acho que de atores também) pós espetáculo: Nossa, hoje aconteceu! Rolou!

Isso é o máximo que posso aproximar porque foi muito mais do que uma apresentaçao que deu certo, que tudo fluiu e a emoçao deu as caras. Foi muito mais mesmo...


O que aconteceu ali, naquele sábado, dia 23 de Outubro de 2010, confirma ainda mais a minha necessidade e a minha vontade de dançar.


Se conectar com os outros por uma outra via, e ver a possibilidade de se comunicar de fato sem uma palavra sequer. Sentir que estamos conectados pelo umbigo e que compartilhamos o mesmo mundo, com suas alegrias e dores...

Ainda que de maneira singular, todos sentimos o tal do universal, o tal do gênero humano.

Pode soar pretensioso, mas quando danço sinto isso na minha pele, dentro da minha barriga, que faço parte de algo muito maior que eu mesma. A dança tem seguramente um poder de conexao gigante, inclusive já li isso em um livro do Garaudy, que se chama Dançar a Vida... ele fala deste papel da dança para unificar o povo para uma colheita, uma guerra, preparar para a morte ou para um nascimento... vale a pena ler, é lindo demais!

Bom, mas voltando pra Mostra.

Quando terminamos de dançar eu estava muito grata por aquilo e daí veio o debate.
Senti muita disposiçao das pessoas em conversar sobre arte, sobre o que seria arte revolucionária, sobre qual o papel da arte... Vi pessoas realmente dispostas a compartilhar suas dúvidas, suas opinioes, seus conhecimentos sem vaidade. Nao sei se é porque estou acostumada com o ambiente acadêmico e com o circuito de mercado da arte paulistana, mas me encantou demais ver uma conversa verdadeiramente franca entre as pessoas...
Deste modo há troca e nao apenas a aparência de uma.

Senti também que devemos criar mais espaços para garantir esta discussao e seguir acumulando sobre o tema.

Para completar, recebemos muito carinho das pessoas, comentários sobre o trabalho, sobre as cenas e sobre o debate. Isso é impagável. Todos muito queridos e generosos, mas queria registrar umas pessoas em particular:

O Cássio, que conheci através do Jeff por sua poesia e que fez uma intervençao fantástica e verdadeira no debate.

O Latuff, que teria tudo para ser uma pessoa distante ou vaidosa, foi muito carinhoso e generoso conosco e nao apenas conosco, com todo o pessoal da Mostra. Nao me esquecerei tao cedo de sua linda disposiçao, servindo salgadinho a todo o sarau do domingo. Que pessoa bonita!!!

O Joao Zinclar, que tirou fotos lindas do espetáculo e veio mostrá-las tao carinhosamente. Nem sei como agradecer.
E finalmente, e principalmente, o Orestes, que me emocionou demais e me fez flutuar com sua sinceridade quando conversamos no domingo no fim do sarau. Receber este incentivo, essa confiaça no nosso trabalho nos recompensa demais.
Para ele deixo um recado: Orestes, você também tirou minhas palavras! E eu, que também sou tao eloquente...
Bom, o post já está longo demais.


Queria apenas agradecer enormemente ao Coletivo de Comunicadores Populares, especialmente o pessoal da Camará e a Ana.
Esses quatro camaradas foram de fato um presente na minha vida neste ano.


Deixo aqui os sites pra quem quiser conferir:





PS: Estou sem til no computador que estou usando, por isso tudo está sem acento.

















quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Arte- qual é a dela?

O Rafa que fazia francês comigo semestre passado, acompanha sempre o blog e reclama quando eu não o atualizo.

Pois bem, ele leu o último texto, o "Primeiro Passo", gostou e me indicou um vídeo, de um professor dele lá da FAU- USP, Agnaldo Farias dando uma palestra sobre arte.

Ele me alertou que o cara é muito estrela, e eu reitero: é mesmo! Mas ele é muito didático, fala muito bem...
Achei que o cara tem uma visão um pouco idealizada sobre a arte, mas ainda assim, ele traz questões interessantes e faz pensar.

Eu não compartilho da visão de que a arte muda o mundo, e de que ela é mais que a vida, ao contrário, eu acho sempre que a vida é mais e que a arte é maravilhosa quando reflete a primeira, não apenas na sua aparência, mas em todos seus desdobramentos.

A arte pode desvelar muitas coisas e tem mesmo um lance de ruptura forte, te faz ver e sentir as coisas por um outro âmbito e é claramente um fator humanizador da humanidade por excelência.

Soa estranho dizer humanizador da humanidade, né?
Mas é isso aí mesmo...

Afirmo isso na direção de que a humanidade produziu sua própria história e com isso também se auto-produziu, assim ela se humaniza ao longo da sua história, em um movimento ininterrupto, mas não necessariamente linear - eu arriscaria que dizer desigual e combinado para o desespero de alguns...rs.

Eu vejo a arte com um papel fundamental neste processo, de conexão entre os homens, de tornar de todos a visão ou a sensação que um único indivíduo tem sobre a vida que inclusive foi formado por este mesmo todo, mas que pode trazer uma interpretação nova, fazer um conexão nova entre as coisas aparentemente desconexas.

Arte para mim faz sentido quando se quebra a aparência, quando se quebra a norma e se aponta para o sentido mais progressivo possível daquele momento e daquele espaço no qual o artista está envolto. Tem tudo a ver com emancipação das nossas amarras e sempre com a imaginação e o forte desejo de que as coisas podem ser melhores, muito melhores do que são.

Para todos.

Como eu comentei com a Ana, acho que a arte é um lugar de potência, quando ela é crítica (ainda que eu eu tenda a achar que Arte é sempre crítica, e isso nada tem a ver com a temática escolhida pelo artista e nem com sua linguagem e óbvio tb que quando digo Arte não incluo as mercadorias da indústria cultural, se bem que o debate aqui é longo, enfim) mesmo que não aponte saídas, está subentendido sua crença numa possibilidade de algo melhor.

Depois de tanto lero-lero, segue o vídeo do tal professor, controverso em alguns momentos, mas interessante sem dúvida, obrigada Rafa:


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Primeiro Passo

Hoje fui assistir ao solo da Paula Pi, no programa Primeiros Passos, do sesc Pompéia.
Cheguei atrasada e acabei não vendo o solo da querida Paula, vi o segundo trabalho, com o qual não me identifiquei muito, mas é sempre bom respeitar as inciativas alheias, todos sabemos o quanto é difícil produzir alguma coisa e se expor.

Gostei mesmo do debate ao final.

O Primeiros Passos é para novos criadores, novas cias mostrarem seu trabalho: 2 trabalhos por noite com um debatedor convidado, sob a curadoria de Angela Nolf, e o Our Love será apresentado em Dezembro por lá, ao que tudo indica, e a Clarissa, amiga nossa mega querida e uma puta artista, vai me substituir. O trabalho estará seguramente em boas mãos.

O que me fez escrever no blog sobre hoje foi o debate, em determinado momento comentou-se sobre o isolamento ao se produzir dança e arte em geral. Ou seja, com quem estamos conversando e dialogando sobre arte, sobre o fazer em dança e claro sobre o mundo?

Todos nós agora temos que produzir a toque de caixa, dançar em inúmeros grupo, e o processo criativo vira algo curto, se produz para se manter produzindo e o que se quer dizer ou expressar fica muitas vezes de lado porque a vida (e principalmente as contas) urgem.

Discutiu-se a dificuldade de fazer parcerias, de encontrar espaços e instrumentos para ampliar nossos horizontes artísticos para além do que já conhecemos e que na impossibilidade de lidarmos com isso, ou na falta de oportunidade de pesquisar com mais afinco (porque pesquisar demanda tempo e verba), acabamos nos fixando nos nossos umbigos e produzindo sozinhos (claro que nem sempre é assim, e é evidente que em muitos casos trata-se de uma opção consciente e necessária, como no caso da própria Paula).

Mas se nosso universo vai ficando restrito ao que e a quem já conhecemos, como podemos expressar o mundo em nossa dança? Como podemos nos comunicar e compartilhar se não saímos do nosso universo e nos abrimos de fato para outras coisas, para a diferença?

A arte fica meio sem sentido para mim se ela não compartilha e não comunga com os outros.

Está muito difícil mesmo encontrar parceiros. mas não apenas para fazer arte. Sinto que é geral, sinto que a dificuldade de encontrar companheiros na vida se reflete na nossa dificuldade de fazermos parcerias na arte.
E essa não é uma constatação de ordem moral. Não acredito que as pessoas não fazem simplesmente porque não querem, acredito que esteja de fato muito complicado, dado a atual configuração de nossas vidas.

Mais uma vez nos deparamos com o isolamento e com a fragmentação, temas do nosso espetáculo, mas em uma outra dimensão.

Para mim não existe arte sem troca, sem investigação , sem curiosidade pelo mundo e acessamos o mundo através de nossas relações com o outro, mesmo quando o outro é um livro, uma foto, um filme, uma peça, uma música ou um poema, pois afinal, que são essas coisas senão outros seres humanos dizendo, através de inúmeras linguagens, o que sentem, vivem e pensam?

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Our Love na Mostra Luta


No dia 23 de outubro às 16h é a vez do Our Love na Mostra Luta, em Campinas - SP.

Acho realmente que a apresentação promete pois é sempre bom estar entre pessoas queridas e, pra mim em particular, por ser a última apresentação antes de viajar pra longe durante 3 meses...ou mais.

Esta é a terceira edição da Mostra que é organizada pelo Coletivo de Comunicadores Populares e tem como objetivo ser um canal de comunicação popular e, nas palavras deles mesmos: "É um espaço para expressão de todas e todos que não tem acesso aos meios de difusão de suas lutas, idéias e ideais e que buscam resistir, criticar ou mesmo romper com esse sistema de exploração e opressão".

O centro da programação são os vídeos, mas tem poesia e quadrinhos tb. E dança, claro.
Os Intermitentes serão os "estreadores" da modalidade junto com o outro grupo da Natália, lá da Unicamp.

Rolam também algumas mesas de debates. Eu fui à mesa deste domingo, Mulheres unidas na luta e na vida, que a Ana, amiga muito querida coordenou muito bem. Foi muito legal ver a sala cheia e participar do debate, valeu muito a pena.

Legal dar uma conferida: www.mostraluta.org

Talvez paire no ar a pergunta: Mas que raios tem a ver o Our Love com a Mostra Luta?
Bom, a minha resposta é: a maneira patológica e absolutamente estranhada como nos relacionamos hoje não seria efeito direto de um modo de produção da vida que não está assentado nas necessidades humanas?

Fica aqui o convite para a Mostra e para o espetáculo.

Apresentação do CEU Perus

Hoje, dia 19 de outubro, aniversário do Ed, todo o coletivo acabou ganhando um presente.
Dançamos o Our Love no CEU Perus e além do lugar ser incrível, muito bem organizado e com uma ótima estrutura, as pessoas que nos assistiram e o mediador foram sensacionais.
Como é bom sentir o reflexo da sua dança nas pessoas, sentir que chegou de fato nelas e que elas reinventaram o espetáculo de acordo com suas histórias pessoais.
Muito gostoso sentir um carinho despretensioso, uma curiosidade verdadeira das pessoas...
É muito bom dançar com e para gente de carne e osso e dialogar de igual pra igual..

Me senti muito alimentada, muito viva. Eu, que tinha vindo de um dia e uma noite delicados, me senti nova e mais uma vez, redescobri o porquê danço.

Queria agradecer imensamente ao Rob, que nos fez o convite.
Ao Péricles, que faz um trabalho muito bacana mesmo.

E ao Fagundes, a Lúcia (adoro esse nome Lúcia), ao Lucas, e todos os outros que estavam mas que eu não tive a oportunidade de perguntar o nome.


Assim vale a pena!!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Esta tal de dança contemporânea

Estou fazendo uma disciplina da pós em Artes na Unicamp, e a professora propôs que a gente apresentasse em cerca de uma hora um tema específico de acordo com o que vivemos e fazemos.
Eu fiquei encarregada, juntamente com a Clarissa, minha cara amiga que é tão desligada quanto eu e até agora não sabe onde fica o xerox, de falar sobre dança contemporânea.
OK. Até aí, tudo certo.

A tragédia foi perceber que eu não sei falar nada sobre aquilo que eu faço.
Me dei conta de que eu não sabia mesmo, e continuo sabendo muito pouco sobre dança contemporânea, em termos teóricos (práticos tb, mas menos...rs)
O que eu sempre fiz foi dançar, e atualmente com o Coletivo, passei a pesquisar, mas sempre na esfera da prática.

Bom, achei este pequeno artigo, que tem algumas definições básicas.
Ao menos é um pontapé inicial.

Segue o link do texto, que é curtinho: Esta tal de dança contemporânea

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Leon

Estou lendo um livro do Daniel Bensaid sobre os trotskismos, e eu, que já admirava muito essa figura do século XX, passei a admirá-lo ainda mais.

A citação é do Trotsky e no fim quem comenta é o Bensaid:

"A humanidade ainda não conseguiu racionalizar a sua história. É um fato. Não conseguimos racionalizar os nossos corpos e os nossos espíritos. A psicanálise tenta ensinar-nos a harmonizá-los. Sem grande sucesso, até o presente. A questão não é de saber se podemos esperar a perfeição absoluta da sociedade. Após cada grande passo a frente, a humanidade faz um desvio, e mesmo um grande passo atrás. Lamento-o, mas não sou responsável [risos]. mesmo após a revolução mundial, é bem possível que a humanidade esteja muito cansada. Para uma parte dos homens e dos povos, uma nova religião pode mesmo surgir, mas um grande passo não terá ficado por dar." Este combate solitário num jardim perdido dos subúrbios da cidade do México, é talvez o mais importante a seus olhos. Outubro podia ter tido lugar sem ele, talvez mesmo sem Lenin, já que enquanto a história avança na boa direção, ela encontra os homens de quem tem necessidade. É na derrota que nos tornamos insubstituíveis. Nos ventos contrários, os justos tornam-se raros.'